terça-feira, 2 de novembro de 2010

Muito mais que um sonho

100 anos de história missionária das Assembléias de Deus no Brasil, e o Pará envia 100 missionários!

Grande Avivamento

Há cem anos atrás, era um tempo de um grande avivamento nos Estados Unidos, onde Daniel Berg e Gunnar Vingren moravam, pois haviam deixado a pátria Suécia em busca de trabalho. Eles haviam atravessado o Oceano para encontrar o avivamento, mesmo que Daniel tenha recebido as fagulhas da chama em sua pátria por Levi Petrus um pastor sueco.

Avivamento missionário

Todo verdadeiro avivamento vem acompanhado com a visão missionária Transcultural, pois o Senhor é um Deus missionário. Agora, Berg e Vingren tinham alguma coisa mais em comum, além da condição de conterrâneos, servos do Senhor e imigrantes no mesmo país. Com apenas um ano de diferença, eram ambos batizados no Espírito Santo e falavam línguas estranhas. Eles tinham algo em comum que era a oração diária para receberem a orientação do Espírito Santo, pois desejavam ser obedientes ao Comandante e Senhor das Nações.

Um Sonho missionário: Pará

Passado certo tempo nos States, um crente, batizado no Espírito Santo, chamado Adolfo Uldin, narrou-lhes um sonho, em que os dois amigos eram personagens, e em que lhe aparecera, bem legível, um nome diferente: Pará. Uldin jamais lera ou ouvira tal palavra, mas compreendeu que era um lugar. Daniel e Vingren entenderam que era a resposta de Deus às suas muitas orações. No dia seguinte, dirigiram-se a uma biblioteca, a fim de consultar os mapas. Ao verificarem a distância do país em que ficava o Pará, chegaram a ser abalados pelas dúvidas, mas após uma semana de oração viram que o melhor era obedecer à maneira como o Senhor os estava conduzindo.

A provisão do Senhor

O dinheiro de que dispunham era muito pouco, mas significava mais um indicativo dos rumos a serem tomados: noventa dólares - o preço da passagem até o longínquo país onde havia um lugar chamado Pará. Mas, eis que, com novo teste, Deus voltava a desafiar-lhes a fé: o Senhor ordenava a Vingren doar os noventa dólares ao jornal da igreja do pr. Durham, Daniel concordou. Eles o visitavam em Chicago, em busca de alguma contribuição para a viagem, "mas", recorda Daniel, "os irmãos não se mostraram muito entusiasmados. Mencionaram dificuldades de clima e predisseram que voltaríamos sem demora. Por isso, não nos garantiram qualquer sustento". Durham limitara-se separá-los para a missão no Brasil, parece que não é muito diferente aos dias atuais. Em outra igreja da mesma cidade, em um culto de despedida, o pr. B. M. Johnsom - que viria a ajudá-los, quando no Brasil, nos momentos mais difíceis - também nada pôde fazer por eles, mas deixou a congregação à vontade. Caso essa oferta poderiam chegar até Nova York.

Prosseguiram viagem e, numa parada, depararam-se com um amigo de Vingren, que foi logo dizendo:

A mão de Deus

"Sabe, irmão Vingren, sonhei com você esta noite, e Deus me falou que eu lhe deveria dar noventa dólares. Hoje de manhã pus o dinheiro em um envelope para remetê-lo... Agora não preciso pagar a remessa". Mais um sinal no caminho: o Senhor lhes falava de modo inusitado, e tão quão claramente lhes falava! A mão do Senhor era quase visível.

Uma vez em Nova York, logo começaram a buscar, nas companhias marítimas, suas duas passagens para o dia 5 de novembro. Não tinham dúvidas; a data era exatamente aquela.

Outro Sinal 

Em South Band, o Senhor lhes havia dito tudo a respeito, pormenorizadamente. Porém, tantos foram consultados quantos negaram haver partida para 5 de novembro. Finalmente, encontraram um navio inglês que se achava em reparos, não constante das listagens. E o navio, o "Clement", começou a singrar, naquele dia prenunciado, em direção a Belém do Pará.

O dinheiro disponível era suficiente, mas dava apenas para a terceira classe, onde nem sequer mesas e cadeiras existiam. Eram compelidos a viajar no convés, sentados em tonéis, "mas sentíamos o poder de Deus sobre nós ali, e louvávamos ao Senhor, e Ele nos falava dizendo que ia junto conosco e que nos abriria as portas", conta Daniel, "o que alegrava os nossos corações maravilhosamente".

A Chegada ao Brasil

A chegada ocorreu a 19 de novembro de 1910. Tudo era estranhíssimo para os dois suecos. As pessoas malvestidas, os leprosos a desfilar seus corpos mutilados, apresentando pungente espetáculo pelas ruas. Mas o Senhor de fato os enviara, e aqui estava para guardá-los do contágio e, logo, das agressões, ofensas e ameaças. Alguns dos alegres passageiros que com eles chegaram ao porto de Belém nunca imaginaram que viriam a ser infectados, e logo depois teriam seus nomes no rol dos mortos.

No modesto hotel (onde por um dia se hospedaram) consumiram os seus pobres 16 mil réis. Com níqueis restantes, iriam de bonde, no dia seguinte, em busca da residência do pastor metodista Justo Nelson, diretor do jornal que, "casualmente", chegara às mãos de Vingren no quarto onde se haviam hospedado. Para surpresa deles, tratava-se de um conhecido de Vingren, nos Estados Unidos.


Separados para as missões por uma Igreja Batista, nada mais natural do que encaminhá-los aos irmãos da mesma fé, o que se fez.

No dia seguinte, foram muito bem recebidos pelo missionário Erik Nelson. Este, como eles de nacionalidade sueca, convidou-os a cooperarem no trabalho, e ofereceu-lhes o porão da igreja, onde se alojaram. O que ocorreu depois foi que como falavam em línguas estranhas foram expulsos e então iniciou uma igreja que depois é mudado de nome para as Assembléias de Deus que nasce em 2011.

A História se repete

Algo inusitado aconteceu no Pará em 2010, exatamente cem anos após a chegada de Daniel Berg e Gunnar Vingren! A história se repetiu! Desde os tempos dos irmãos morávios, um movimento missionário que chegou a ter um missionário para cada 12 membros, por volta de 1720, que se ansiava por outro movimento semelhante!

De modo abrangente, igrejas do Pará lideradas pelos pastores Valdolino Gaspar Rodrigues presidente dos campos assembleianos em Icoaraci, Landolfo Apinajés Passos em Quatro Bocas, Nerias Pinheiro da Costa em Cidade Nova, ficaram sabendo sobre vários povos não alcançados pelas boas novas do continente asiático e do projeto Uniásia. Eles receberam informações precisas sobre como as pessoas que ali habitam são três vezes miseráveis: além de possuírem milhões dos mais pobres da terra, possui a maioria das línguas que não tem nada escrito da Palavra de Deus e não têm quem lhes fale sobre o precioso amor de Jesus.

Um trabalho de conscientização

Esse laborioso trabalho de divulgação foi feito pelos membros da Horizontes América Latina, organização que trabalha na região da Janela 10-40. Esta é uma faixa da terra que vai do Oeste da África, passando por toda a região do Norte da África e chega até o Japão. Fica entre os graus 10 e 40 graus acima da linha do Equador, formando um retângulo. Na região vive o maior número de povos não evangelizados da terra e mais de dois bilhões que nada conhecem sobre o Senhor Jesus.

Desafio Aceito

Algumas igrejas locais, despertadas pela conscientização do fato, resolveram se mexer, arregaçar as mangas e aceitar o desafio. Elas começaram do modo certo: vários pastores se reuniram em oração. Depois de muita oração e quebrantamento concluíram que cada igreja da região iria se envolver com a evangelização da Ásia, o continente menos alcançado da terra.

Jovens despertados para o desafio
 
Em vista do sucesso do projeto, os irmãos daquela região decidiram realizar um culto missionário com a presença de todas as igrejas unidas. O local da reunião foi o estádio estadual jornalista Edgar Augusto Proença, mais conhecido como Mangueirão, na capital Belém, cidade que recebeu os pioneiros Berg e Vingren. É tempo de resgatar a visão missionária dos pioneiros! Causou um grande impacto no estado quando uma pequena multidão de crentes de várias igrejas se dirigiu para o local escolhido. Foi tremendo o momento em que milhares de jovens responderam ao apelo e dedicaram suas vidas para missões. Foi emocionante presenciar a seleção de 100 jovens que seriam imediatamente enviados para uma missão onde receberiam um treinamento Transcultural prévio.

Preparação diversificada para um novo tempo

Obviamente a missão escolhida tem como ênfase o treinamento de missionários para o Projeto Uniásia, um projeto de sete anos onde receberão sete formações diferentes: Bíblica, Missiológica, Transcultural, Espanhol, Inglês, Língua Asiática e uma graduação Universitária na Ásia. Nessa missão, os 100 jovens foram adestrados para a peleja e revolucionaram o estado com os seus testemunhos. Depois, fizeram uma viagem a um país da América do Sul para ali terem uma experiência Transcultural prática. Nos meses em que ali permaneceram, eles foram uma bênção para aquele país. Muitas pessoas se converteram pela pregação direta. Outros tantos foram mudados pelo exemplo de unidade, de amor, desvelo e humildade demonstrados.

Os jovens missionários retornaram ao Brasil e após um período de treinamento em São Paulo foram ao Pará e no mesmo estádio onde aceitaram o desafio, tiveram uma despedida condigna, rumo ao campo. Naquele momento vimos uma mistura de emoções. A alegria e as lágrimas se confundiam; familiares, amigos e irmãos na fé que os abraçavam como que a retê-los por um instante mais, ainda que breve. Foram feitas recomendações de última hora e ofertas dadas às escondidas. Tudo era júbilo, num regozijo indescritível.

Despedida para a Ásia

Enfim, chegou o momento de partirem. Outra vez uma pequena multidão – agora mais restrita – os acompanhou ao aeroporto em São Paulo. Nem a conquista do pentacampeonato mundial causou tanta emoção, até porque a causa era mais nobre. Ao som de hinos e louvores, numa atmosfera mais de festa do que de despedida, os 100 jovens missionários seguiram para escolas de línguas no mundo islâmico/budista/hindu. Lá eles iriam finalmente trabalhar com os povos que os despertaram e conclamaram ao serviço naquele continente.

Uma batalha ferrenha

Com esses 100 revolucionários do Senhor vivendo em território de satanás, você pode imaginar a luta que será travada, tanto no corpo a corpo como nas regiões celestes para resgatar os esquecidos pela Igreja do Senhor? O inimigo não vai querer entregar de graça o território conquistado e dominado por séculos. Você já pensou na força que representa a união dos que chamados de filhos de Deus, com cada um investindo cinco reais por mês? Não importa o valor do salário e sim o seu compromisso individual com a causa do Senhor Jesus! O que aconteceria se todas as igrejas do Brasil imitassem o exemplo desses abnegados homens de Deus pastores Valdolino e Nerias? Você consegue ver o “reboliço santo” que resultaria de uma decisão tão simples como essa?

Celebrando o Centenário Missionário

Vamos celebrar os cem anos meditando sobre aqueles dois jovens obedientes que aceitaram o grande desafio de virem para estas terras inóspitas, na época, para trazerem a mensagem de avivamento e cem anos depois a história mostrar que produziu muitos frutos. Hoje as Assembléias de Deus é a maior denominação em nossa pátria. Além de que avivados pelo mesmo Espírito devemos apoiar aqueles que estão obedecendo ao mesmo comando de irem para o continente menos alcançado da terra. É hora de missões transculturais, agora a partir do Brasil que tem mudado tremendamente, pois abriga a terceira maior igreja evangélica no mundo e se encontrar entre as 10 maiores economias do mundo.

Muito mais do que um sonho

Este é um sonho que tenho há muito tempo e oro para que isso seja uma realidade. Irmãos façam as contas de quantos missionários poderiam ser enviados se na sua cidade fosse levantado um movimento como esse que acabei de descrever! Será que as velhas desculpas como falta de verbas e carência de obreiros continuariam sendo apresentadas como empecilhos para a propagação do evangelho? O que será que Deus dirá à Igreja Brasileira quando nos apresentarmos diante do trono para a prestação de contas? Poderemos ser considerados por Ele como servos obedientes? A Bíblia diz que uma alma vale mais do que o mundo inteiro. Quanto vale a sua vida? E a vida dos três bilhões de pessoas que hoje não podem nem mesmo ouvir o nome de Jesus? Pense nisso. Até quando esse tipo de movimento será apenas um sonho de poucos?

No temor do Senhor,

David Botelho

Diretor - Horizontes América Latina

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