sexta-feira, 24 de julho de 2015

25 anos do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069, de 13 de Junho de 1990

No ultimo dia 13 de julho o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) completou 25 anos. Nós a igreja do Senhor Jesus não podemos ficar de fora desta comemoração, pois o cuidado e a proteção de nossas crianças também foram ordenados por Jesus.

“E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta, a mim me recebe.” Mateus 18:5; Lucas 9: 48; Marcos 9: 37

Preste atenção que os três textos usam a palavra receber, ou seja, cuidar, acolher, etc.

Em outro momento os discípulos do Mestre estavam expulsando as crianças e Jesus os reprende e afirma que o Reino dos Céus pertence também às crianças:

“Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus.” Mateus 19: 14; Marcos 10: 14; Lucas 18: 16.

As passagens citadas nos mostram com clareza não apenas a importância da criança, mas as coloca como “Prioridade Absoluta”, pois elas também têm prioridade no Reino dos Céus e, receber uma Criança é receber o próprio Cristo.

A concepção de Criança no ECA trouxe avanços extraordinários para nossa sociedade, eu diria que agora nossas leis estão vendo as crianças como Deus as ver. A criação dos Conselhos Municipais, Estaduais e Federal de Defesa da Criança e do Adolescente e de conselhos tutelares são frutos do ECA. Nosso Deus é justo e sempre ouviu o choro dos órfãos:

“Pois o Senhor vosso Deus, é o Deus (...) que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa.” Deuteronômio 10: 17 e 18

“aprendei a fazer o bem; buscai a justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva.” Is 1: 17

Não tenho duvida de que Deus ouvindo o choro de nossos órfãos colocou no coração de nossas autoridades o ECA que já em seu Artigo 1 fala:

“Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.”

Quanto mais eu leio o ECA, mais convencido fico que Deus influenciou de forma direta a construção deste Estatuto. Desde 1990, diversas políticas públicas foram criadas para garantir os direitos fundamentais como convivência familiar, educação, esporte, lazer, liberdade e saúde [Art. 4].

Índices – Entre 1990 e 2012, a mortalidade infantil caiu 77%, assim como a mortalidade materna [Art. 8], com redução de 43%, entre 1990 e 2013. Além da prioridade no acompanhamento médico via Sistema Único de Saúde (SUS), as crianças passaram a contar com diversos testes que diagnosticam precocemente problemas que podem prejudicar seu desenvolvimento. Entre eles, estão os testes da orelhinha, do olhinho e do coraçãozinho [Art. 7-14].

As garantias atuais de acesso à educação e as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE) também são resultados do ECA. Se em 1990 quase 30% da população entre 5 e 19 anos era analfabeta, atualmente 98,3% das crianças entre 6 e 14 anos estão devidamente matriculadas no Ensino Fundamental [Art. 53-59]. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Garantias – Para atuar como fiscais do cumprimento do Estatuto e defensores de direitos, o próprio ECA criou os Conselhos Tutelares e de Direitos. Atualmente, são 5.956 Conselhos Tutelares em todo o País. Apenas seis municípios ainda não possuem essas instituições, mas estão em fase de implantação. Os dados são Agência do PT de Notícias.

Outro mecanismo fundamental de garantia é o Disque 100. Criado em 1997 por organizações da sociedade civil, em 2003 passou a ser administrado pelo governo federal. As denúncias são feitas de maneira anônima, por telefone.

Mais ainda falta algo primordial para enfim realizarmos a vontade de Deus sobre este assunto, o engajamento da Igreja. A noiva de Cristo parece ainda não se importar com aquilo que Jesus coloca como prioridade. Amamos o Senhor, mas parece que não amamos o que Ele ama. Precisamos nos importar mais com aquilo que realmente Ele se importa.

Leia aqui a Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente): 
Pr. Rodrygo Gonçalves

segunda-feira, 20 de julho de 2015

#### Aos pastores e líderes de juventude ####

Esta carta intenta dizer o que vocês, talvez, já saibam: que a juventude tem um ímpeto e uma energia que faz dela um “lugar” especial como instrumento de mudança, depósito de indignação, violência, provocação, criatividade e ousadia. Mas como saber disso não basta, falar sobre o que vocês, em geral, tem feito com isso é o que realmente me inspirou a escrever o que agora segue.
Tá difícil ver os congressos que vocês organizam com centenas, as vezes milhares de jovens, discutindo as mesmas questões primárias, que só interessam às suas denominações e esse gueto evangélico, e nada à sociedade. 30 mil jovens assassinados por ano no Brasil, mais de 70% deles negros, e vocês se calam. Seus jovens liderados sequer sabem disso. Vocês estão se lixando para o encarceramento em massa, a cada ano, de pretos, pobres e favelados; só vocês conseguem ignorar uma chacina como a de Cabula; só o mundinho de vocês pra ignorar a morte, pelo estado, de 43 jovens estudantes em Ayotzinapa, como se vocês não fossem nem jovens, nem estudantes; vocês pulam, cantam e repetem frases feitas para “o irmão do lado” enquanto o Complexo do Alemão e a Maré sangram e na baixada fluminense a juventude é exterminada. Vocês advertem seus jovens ao perigo da “ideologia de gênero”, enquanto a ideologia por detrás do racismo, bem como a ideologia do extermínio presente na cultura policial militar no Brasil é um mal menor. Martin Luther King tornou-se pastor aos 19 anos de idade, em 1948. Apenas sete anos depois, em 1955, portanto com 26 anos, liderou o famoso boicote aos ônibus em Montgmomery, em protesto ao racismo e violência sofridos pela negra Rosa Parks. É claro que eu acredito na sinceridade de vocês no desejo de verem uma juventude saudável e com a vida em santidade (seja lá o que isso queira dizer). Mas o efeito colateral da liderança de vocês neste sentido tem sido uma juventude apática, socialmente inútil, completamente indiferente à qualquer clamor que não venha embalado de religião e moral. Então essa carta é para vocês. Por favor, se empenhem. Esses congressos de vocês estão inúteis. A sociedade não ganha nada com eles. Parem de contribuir com a castração da potência da juventude. Parem de alimentar o avanço de uma juventude mente fechada, egoísta, reacionária, arrogante e indiferente. Por favor voltem a Isaías 58 e trabalhem com eles o jejum útil para eles e para a comunidade local, para a sociedade. Por favor vão ao Evangelho e digam a eles que a justiça deles deve superar a dos escribas e fariseus. Ninguém mais na sociedade aguenta esse moralismo chato e arrogante, essa fé que olha do alto do pedestal. Vocês deveriam se envergonhar de ver um jovem liderado seu dizendo que “bandido bom é bandido morto” e que quem acredita na possibilidade de recuperação de um menor infrator deve “levar um bandidinho pra casa”. E se você pensa, a vergonha é você mesmo. Por favor, devolvam nossos jovens. Devolvam a juventude à eles. Não se iludam que os ajudando a controlarem o apetite sexual e a ficarem longe do álcool e das drogas farão deles a juventude dos sonhos de Deus. Eles serão bons meninos/menias e caretas. Pode ser bom (até acredito que seja). Mas juventude dos sonhos de Deus eles só serão quando canalizarem essa energia para causas em que a vida do outro e seu sofrimento, sua desesperança e violação de direitos tornem-se a causa deles também. Tem que pensar na cidade. Tem que pensar na sociedade sim. Tem que sair do fantástico mundo dos congressos dos templos de vocês. No amor em Cristo, Ronilso Pacheco, 02 de Julho de 2015

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Será que Jesus mentiu ???


Como é fácil viver o cristianismo hoje, cheio de facilidades...cheio de igrejas para todos gostos. Igrejas tradicionais, igrejas não muito tradicionais, igrejas radicais, judaizantes, comunidades e claro, igreja sem igreja (Isso aparentemente é bom, não me entenda mal). Com tantas igrejas, conseguimos descobrir a "mentira de Jesus" ?! Uma vez, Ele disse: “...porque sem mim nada podeis fazer". (João 15:15) Com tantas igrejas, será que conseguimos descobrir a "mentira de Jesus" ?! Hoje, pelo jeito, provamos que isso não era verdade pois, as igrejas estão fazendo tudo sem Jesus! É só observar, como Jesus foi enfeitado, está cheio de acessórios, como sua palavra, que Ele ensinou foi distorcida ou esta sendo pregada com meia verdade e ainda com rotulo romântico e espiritual. Veja, como as igrejas estão tendo como base, não a Cristo mas sim o nome de seus fundadores e o carisma dos seus "pastores", "apóstolos", querubins, super sayajin e claro, vices Jesus. Como as igrejas estão vivendo para si e esquecendo que lugar de igreja é fora da igreja! Observe como alguns crentes caminham, vivendo um cristianismo sem Cristo e sem Cruz e como os mesmo precisam de revelações, de um profeta para então, ouvir a Deus! Campanhas, atos proféticos, de um movimento X ou Y, evento e evento, misticismos para assim continuar amando a Jesus. Triste não ?! Nesse caso, com todos esses pseudos caminhos para que precisamos de Jesus ?! Ou para que Jesus ?! 

Com tudo isso, provamos ou tentamos provar que não necessitamos de Jesus, para vivermos o cristianismo, não precisamos Dele para construirmos e levarmos a igreja, não é necessário Jesus nos nosso quarto, quando afinal, temos um profeta que faz a intermediação entre nós e Deus. E além disso, por qual razão devemos estudar as escrituras sagradas como Jesus disse em mais uma "mentira" , joão 5:39 "Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim". 

Quem faz isso hoje?! Já que tenho a voz de Deus através dos meus ícones ungidos! Será que Jesus mentiu ??? Ou somos nós que continuamos mentindo para nós mesmos ??!!
‪#‎Reviva‬ – Marcio Cidcley / Suze Oliveira

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Missionário: maluco, mártir, mendigo ou o quê?

Antonia Leonora van der Meer


A igreja evangélica brasileira em poucas décadas transformou-se de campo missionário em “celeiro de missões”. Como a igreja está assumindo e tratando seus missionários? 

Maluco?

Fui convidada para falar sobre missões numa igreja bem viva e dinâmica. A família que me hospedou não se cansava de ouvir minhas experiências missionárias. Até que, de repente, a filha que estava para terminar o curso de medicina começou a mostrar que estava seriamente considerando a possibilidade de servir na obra missionária. O ambiente mudou totalmente:

— Isso seria uma loucura!

Muitos cristãos ainda consideram o missionário basicamente um maluco. Como é que uma pessoa de boa formação ou com responsabilidades dentro da família abandona tudo e todos para embrenhar-se em alguma selva entre povos tribais ou para confrontar situações de alto risco em países resistentes, onde há falta de segurança e de confortos básicos?

— Missionários solteiros, tudo bem (desde que não seja meu irmão ou minha filha), mas um casal com filhos é o cúmulo do absurdo! É claro que Deus não pediria uma coisa dessas para seus filhos! — é o pensamento de muitos.

Será que Deus não pediria? O que lhe custou o seu projeto missionário? A Bíblia afirma que se trata de uma loucura de Deus: uma loucura poderosa para salvar e transformar vidas humanas. Graças a Deus pelos que aceitam ser “os malucos de Deus” (1 Co 1.21-29).

Mas isso significa uma atitude irresponsável da parte do missionário? Ou da igreja? Infelizmente, muitas vezes tem sido! E aí já abandonamos a categoria da loucura segundo Deus para uma loucura humana, irresponsável. Isso acontece quando o missionário é enviado com um espírito ufanista, sem o preparo espiritual, bíblico, missiológico e pastoral adequado. Quando ele ou sua igreja se sentem auto-suficientes, não precisam de ajuda ou orientação, nem de missionários mais experientes, nem de líderes cristãos nacionais. Assim, o missionário é enviado para ser bênção, mas nem sempre será.

Mas existe outra irresponsabilidade ou loucura injustificável e pecaminosa que nossas igrejas têm praticado. Enviam o missionário com a bênção da igreja, que se orgulha em divulgar que sustenta “X” missionários. Mas, de repente, surge um projeto de construção ou outra necessidade urgente que demanda toda a atenção.

— Ora, o missionário é pessoa de fé. Deus cuida dele — e a igreja abandona seus missionários no campo.

Será que o pastor também não é homem de fé? Por que, então, tal atitude inconseqüente? O missionário enfrenta dificuldades, às vezes problemas de saúde, falta de recursos básicos, falta de explicações e comunicação, dívidas. Como resultado, surge uma profunda crise. Às vezes trata-se de uma pessoa que se adaptou bem ao campo, progrediu no estudo da língua nacional, relacionou-se bem com os nacionais e acaba sendo derrotada por esse abandono!

Gostamos de falar em guerra espiritual, mas abandonamos nossa tropa de elite, nossos comandos no campo de batalha, sem orientação, sem recursos, às vezes feridos, sem qualquer cuidado! Nenhum exército humano faria isso.

Outra manifestação dessa inconsistência acontece no momento em que o missionário põe os pés de volta no Brasil:

— Voltou do campo? Deixou de ser missionário. Acabou o sustento! — um tremendo contraste com empresas e governos, que enviam funcionários para servir em outras culturas ou situações de risco, e sempre oferecem uma série de compensações.

Mas, no caso dos nossos missionários, se o sustento não acaba por completo, geralmente diminui consideravelmente, afinal “o missionário é uma pessoa simples, chamada para sofrer”...

Não nego que muitos sejam chamados para sofrer. Mas esse sofrimento não deveria ser causado pela igreja que o envia e sustenta, mas pelas condições do contexto de vida do local onde trabalha. É triste saber que missionários brasileiros voltam prematuramente do campo muito mais por causa da falta de preparo, de sustento e de apoio pastoral adequados, e por problemas de relacionamento com os que os enviam, do que por problemas de ministério ou de relacionamento com as pessoas a quem servem, mesmo em países considerados de alto risco.

Mártir?

— Missionário?! Para mim é um ser muito mais santo, uma pessoa chamada para sofrer. É alguém que não se preocupa com as coisas do mundo, despojado. Um verdadeiro mártir!

É assim que muitos vêem o missionário. Um ideal que pode ser admirado e colocado num pedestal, não um modelo para ser seguido. E é claro que uma pessoa que está no pedestal não precisa de minha ajuda e compreensão. Está ali para ser admirada (ou apedrejada).

Muitos missionários voltam dos campos emocionalmente exaustos, confusos, quebrantados, precisando muito de um tempo de renovação, cuidado e repouso. Mas são recebidos ou como heróis, com um programa lotado de compromissos, ou sem nenhuma atenção. A igreja deveria ser a família onde fossem recebidos com amor, carinho, cuidado, interesse neles como pessoas, e não só no trabalho que realizam.

Há cristãos que, quando ouvem relatos de crises tremendas ou encontram o missionário doente, magro e exausto, aplaudem:

— Esse é um verdadeiro missionário!

Mas, quando o mesmo missionário passa por uma fase mais tranquila, facilmente surgem críticas e desconfianças:

— Ele fica viajando por aí com nosso dinheiro... Que trabalho realmente está fazendo? Parece até que está passando muito bem!

O que significa mártir? Vem da palavra “ser testemunha”, “dar testemunho”. Mas aí o martírio não é privilégio só de missionários, e sim de todo cristão verdadeiro...

O que vemos na igreja primitiva? Certamente houve alguns mártires que morreram pelo seu testemunho. Mas a maioria deles recebia vários tipos de apoio de igrejas e irmãos, e não buscava o sofrimento. Este vinha sem ser convidado, muitas vezes inesperado, e era enfrentado com fé e coragem pelos discípulos de Jesus, que até se sentiam honrados por sofrerem pelo seu nome.

Será que estou defendendo a volta de uma busca do martírio? Não! Mas se não estamos dispostos a encarar seriamente essa possibilidade como conseqüência de nosso ministério em situações de crise, teremos de abandonar muitos dos campos missionários mais carentes.

No século 19, muitos missionários iam ao continente africano sabendo que havia um alto risco para suas vidas. Oitenta por cento morriam de malária, doença que ainda tem matado alguns jovens missionários brasileiros na África. Isso é doloroso, mas não significa o fim de nossa responsabilidade. Mais difícil é a situação em muitos países, onde o fundamentalismo religioso vê o cristão como ameaça à sua cultura, família ou nação. Tem havido muitos martírios, a maioria de simples cristãos nacionais, dispostos a arriscar suas vidas no seu testemunho (martírio), muitas vezes sobrevivendo com salários ínfimos. 

Mendigo?

Ainda outros vêem o missionário como mendigo:

— Na minha igreja, missionário não prega!

Um visitante estrangeiro, a quem um pastor foi constrangido a ceder o púlpito, transmitiu a mensagem de Deus e, para surpresa do pastor preconceituoso, não pediu nada. Não estava ali para pedir.

Podemos perguntar mais uma vez: por que o pastor é digno de um salário decente, plano de saúde, auxílio para transporte etc. e o missionário é obrigado a “pedir esmolas” para o seu sustento?

Pessoalmente, dou graças a Deus porque nunca precisei pedir pelo meu sustento. Os próprios líderes da Missão escreveram algumas cartas e igrejas e irmãos se manifestaram com boa disposição para ajudar no meu sustento, muitas vezes fontes inesperadas e fiéis. Nunca faltou nada.

Mas o missionário que é convidado para se apresentar com carta de sua agência missionária com vistas a levantar sustento para o seu ministério não deveria se sentir e muito menos ser tratado como mendigo. Ele não é um peregrino solitário, mas um enviado, um embaixador, em primeiro lugar de Jesus Cristo, mas também da igreja. Missões é sempre um ministério participativo, nunca uma tarefa isolada de um excêntrico.

Conheci uma missionária que, depois de vários anos de ministério frutífero no exterior, passou um tempo no Brasil para mais treinamento. Ela sofria com dor de dentes, mas não tinha coragem de compartilhar essa necessidade com sua igreja, com medo de ouvir: “Lá vem nossa missionária pedir de novo!”

A igreja deveria providenciar este e outros cuidados naturalmente, livrando seus missionários de tal constrangimento.

Por outro lado, a igreja não deve ser ingênua, como muitas vezes tem se mostrado. Há missionários com boa lábia, que despertam as emoções e levam as pessoas a contribuir. Estes, nem sempre têm um bom testemunho no campo. Há outros que são fiéis e respeitados no seu ministério; são mais humildes na apresentação e, por isso, são esquecidos. De qualquer forma, parece ser algo extraordinário, não normal, contribuir com o sustento missionário.

A igreja deve saber também que é muito melhor sustentar alguns, com um compromisso integral de intercessão e cuidado pastoral, que dar esmola a muitos. Uma igreja com coração missionário recebe bem seu missionário que vem de férias e o ajuda a conseguir moradia, cuidados de saúde, apoio pastoral, um lugar para descansar. Muitas igrejas ainda não têm essa visão. Assim, muitos missionários voltam ainda mais arrebentados para o campo.

Uma vez fui convidada insistentemente (quase forçada) para ir numa grande reunião de senhoras de muitas congregações diferentes. Estava com pouco tempo, mas cedi ao convite. Quando chegou o momento para o testemunho missionário, a dirigente falou:

— Tem uma pessoa aqui que veio nos pedir uma coisa. Vamos lhe dar dois minutos?

Sentindo-me humilhada, consertei:

— Não vim pedir nada. Fui convidada para dar um testemunho. Se me ouvirem pelo menos cinco minutos, disponho-me a falar.

Soube que, numa grande conferência cristã na Inglaterra, alguém fez um apelo para que os participantes guardassem os saquinhos de chá usados para doar aos missionários. No dia seguinte, por toda parte, viam-se saquinhos secando ao sol. Por que não pensaram em usar duas vezes o mesmo saquinho de chá e enviar saquinhos novos para os missionários?

Em várias igrejas, tenho pedido roupas e calçados usados e literatura evangélica para ajudar os irmãos angolanos. Muitas estão dispostas a dar, mas não a selecionar, empacotar e, muito menos, ajudar nos custos de transporte. É sempre uma feliz surpresa quando uma igreja ou pessoa prontificam-se não apenas a doar, mas também a enviar as doações.

Ou o quê?

Afinal, quem é o missionário?

É um ser humano, pecador, que comete erros, mas que foi salvo pela graça.

É um ser humano vulnerável, que vive pressões muito maiores que as de cristãos que ficam em casa, e geralmente têm muito menos estruturas de apoio.

É um ser humano seriamente comprometido com o reino de Deus, disposto a abrir mão de muitos confortos, segurança e relacionamentos para obedecer ao seu chamado de amar e servir um povo diferente.

É um ser humano que precisa de pessoas que procurem compreendê-lo, interessar-se em seus problemas, dores, projetos, sonhos e frustrações.

É um ser humano muitas vezes deslocado, desorientado, confuso, cansado, precisando de repouso, restauração de forças e amizade sincera.


O que vamos fazer com ele?

Antonia Leonora van der Meer (Tonica) foi missionária durante dez anos em Angola e agora trabalha na formação e no cuidado pastoral de missionários, no Centro Evangélico de Missões (CEM), em Viçosa, MG