“Mais recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e samária, e até
os confins da terra.”
Este texto confronta-nos com o princípio da prioridade. Na obra de
expansão do Reino entre as gerações até aos confins da terra lidamos com uma
tarefa multifacial e é, portanto necessário refletirmos sobre o conceito da
prioridade no ensino missiológico de Cristo.
‘Chronos’ é o termo utilizado
para ‘tempo’ no versículo 6 para a pergunta dos discípulos a Jesus: “... lhe
perguntavam: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel ?”
A pergunta era absolutamente escatológica pois ‘Chronos’ refere-se ao tempo
humano, linear. Era uma
pergunta sobre a agenda dos últimos dias. O que estes discípulos, de forma
unânime, perguntavam era qual seria o dia, mês e ano da restauração do Reino a
Israel.
A forma como esta pergunta foi elaborada mostra a distorção doutrinária
daquilo que foi o centro dos ensinos de Jesus no último ano de seu ministério:
o Reino de Deus. Quando eles perguntam: “será este” – ‘touto’ – indica que eles esperavam uma restauração imediata com
objetivo definido, um rompante de Deus intervindo no mundo da forma como
existia na época; “que restauras” - ‘apokathistaneis’ – aponta para uma
reconstrução nacional política e o complemento ‘a Israel’ dá um tom
político/territorial, a independência de Israel.
Voltando à pergunta inicial: “será este o tempo” do versículo 6
entendemos que o texto poderia optar entre duas possibilidades mais comuns para
compilar a resposta de Jesus no versículo seguinte quando o Mestre enfatiza que
“não
vos compete conhecer tempos ou épocas”. Para a expressão ‘tempos
ou épocas’ o texto poderia utilizar a mesma expressão encontrada no
versículo 6: “Chronos”. Desta forma
Ele estaria dizendo que não era da competência dos discípulos conhecer o ‘tempo humano’ – dia, mês e ano – em que
o Reino seria restaurado. Assim Jesus condicionaria o assunto escatológico a
um plano humanamente inteligível.
Outra opção textual seria a utilização do termo ‘Kairos’ para ‘tempos ou épocas’ na resposta de
Cristo e assim estaria falando que ‘não vos
compete conhecer o tempo de Deus’ pois ‘Kairos’ é o termo no Koinê
largamente utilizado para ‘tempo divino’:
o tempo que regia o Olimpo, “os fatos e acontecimentos que assinalavam um
momento certo ou errado de algo acontecer” nas palavras de Tertúlio Conico. Desta
forma Jesus estaria dizendo que não era da competência dos discípulos conhecer
o ‘tempo de Deus’, o momento apropriado na economia do Pai para que o Reino
chegasse.
Para nossa surpresa textual a expressão ‘tempos ou épocas’ no
versículo 7 utiliza ambos os conceitos: ‘chronous kai kairous’ – o
tempo humano e o tempo divino e com isto o texto afirmava que a prioridade de
Jesus não era escatológica: os últimos dias, os eventos finais, a consumação
dos séculos; mas sim missiológica quando o versículo 8 inicia com a
expressão ‘mas recebereis...” Ou seja, em contraposição ao que foi
falado anteriormente, o cerne do ensino é: “... recebereis poder ao descer
sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas”. Com estas
palavras Jesus escolhia enfatizar o seu ensino sobre o Reino de Deus: Ele
criara uma Igreja para espalhar a Sua Palavra a todos os povos, em todas as
gerações, até que o Senhor venha.
Ronaldo Lindório
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