Analisando exegeticamente este
versículo chegaremos a uma conclusão no mínimo espantosa. Vejamos:
O sal, referindo-se provavelmente
ao cloreto de sódio retirado de perto do Mar Morto, um pó branco que muitas
vezes permanecia misturado a outros produtos, era conhecido de qualquer um dos
ouvintes de Jesus. Fala-se muito das propriedades preservadoras do sal ou mesmo
da função de dar sabor às comidas. O contexto da análise linguística, porém,
sugere que antes de qualquer coisa se deve levar em conta a “propriedade
estimulante do sal, como fertilizante. Esta ideia é mais edificante do que
atrasar a putrefação. Jesus não veio para evitar que o mundo entrasse em
putrefação, mas, sim, para salvá-lo (Jo 3: 17) e dar vida em abundância”
(DITNT, 1983, p. 332-338). Encontramos ainda que o sal deve ser encarado aqui
como “condimento que tem a função de ressaltar a qualidade do alimento ou do
solo” (1983, p. 332-338).
A melhor tradução da frase seria,
portanto: “Vós sois o sal para a terra”, pois a terra (tes ges – grego Koinê)
está como genitivo objetivo indicando que o sal da questão deve ser pensado
como propriedade para a terra. A palavra terra (ge) aqui empregada denota mais
a questão geográfica do que política e geralmente é utilizada para distinguir o
céu (ouranos) da terra (ge), obviamente diferente de mundo (kosmos) onde a
ênfase são as pessoas, ou o lugar de habitação delas, num significado mais
religioso ou filosófico.
Juan Mateos argumenta que moiranô
(falando sobre o sal se tornar insosso) refere-se a Mateus 7:26, principalmente
na questão de ser néscio aquele que ouve as palavras de Jesus e não as pratica.
Assim, “a comunidade que em sua prática trai a mensagem não tem nenhuma razão
de existir” (1983, p. 62-63).
Orlando Boyer diz que Jesus
“proferiu estas palavras afastado das multidões (cf Mt 5:1), mas com o alvo de
abençoá-los por intermédio daqueles a quem ensinava” (1970, p. 84), seus
discípulos.
Sendo que Deus tem a sua missão
(reinar soberano e absoluto, conforme a tríplice missão em Apocalipse) e tem um
povo da Missão, seus discípulos, desde o princípio, quer seja na criação, no
mandato cultural, nas alianças, no chamado de Abraão, na vinda de Jesus, na
formação da Igreja ele continua querendo a mesma coisa: que nós, os que foram
separados por ele e para ele e que somos constituídos de material diferente da
terra que nos cerca (o sal é uma substância diferente da terra) precisamos
exercer a função de salgar a terra, abençoando e não apenas dando sabor, ou
preservando-a da podridão. É necessário ser mais positivo no alcance do sal
para a terra, pois o que está implícito no texto é justamente a produção de
vida que depende da utilização do sal corretamente, sem sujeiras que possam
desqualificá-lo.
Então, ser sal para a terra tem
uma resignificação a ser feita: ser sal é ser mais que um pregador, é ser mais
que um defensor da sã doutrina, é ser mais que um apologista de Deus, é ser
mais que um denunciador profético dos males e corrupções do mundo, é ser mais,
muito mais; é ser alguém comprometido com o Reino de Deus de maneira que as
ações de salgar a terra perpassem a nossa própria conduta como servos do Reino
e nossas ações sejam inclusivas e não exclusivas. É ser ativo no compromisso
com a restauração da vida e não somente com a pregação de um evangelho
alienante que só faz sentido dentro das quatro paredes das igrejas. É enxergar
os sinais do reino de Deus, dentro e fora da igreja e persegui-los, e quando os
alcançar promovê-los para que o Reino de Deus seja ampliado e as bênçãos deste
reino alcancem o que Deus planejou alcançar deste o princípio: toda a sua
criação sendo restaurada para a glória dele mesmo. Estas atitudes pressupõem
para nós mais que simplesmente pregar o evangelho falando às pessoas ou
ações/assistências sociais.
(parte integrante do livro
“Missão Urbana Transformadora” – Gedeon J Lidório Jr e outros)
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